6 de fevereiro de 2014

[.pra ler numa tarde do futuro.]

:: Agora você pode ter certeza: não volta. O beijo não dado não tem mais sentido. O abraço guardado não tem mais motivo. O palavrão engolido não quer dizer mais nada. Não volta, você cansou de ouvir, mas só agora pode ter certeza. A chuva nunca mais fez o mesmo desenho no vidro. O mar nunca mais a mesma pose para a fotografia. Sua música preferida só tocou no momento certo naquele dia. O poema deixado pra depois, hoje, não vale mais nada. Há rimas que mofam. Que perdem o significado. Consegue entender? Agora, acredita? Não era autoajuda barata. Previsão de cigana mentirosa. Horóscopo de jornal vagabundo. Conselho de velho morrendo. Carta falsa de tarô. Não volta mesmo. E espero que na cópia desta mesma carta a ser aberta, novamente, daqui a dez anos, seja menor o arrependimento. Mas eu já aviso: dentro deles, o mesmo texto. Não volta – tatue no braço. Grude post-its. Escreva com carvão pelas paredes. Com as unhas compridas arranhando a terra: história de verdade não se rebobinam.
-Eduardo Baszczyn-