6 de fevereiro de 2014

[.pra ler numa tarde do futuro.]

:: Agora você pode ter certeza: não volta. O beijo não dado não tem mais sentido. O abraço guardado não tem mais motivo. O palavrão engolido não quer dizer mais nada. Não volta, você cansou de ouvir, mas só agora pode ter certeza. A chuva nunca mais fez o mesmo desenho no vidro. O mar nunca mais a mesma pose para a fotografia. Sua música preferida só tocou no momento certo naquele dia. O poema deixado pra depois, hoje, não vale mais nada. Há rimas que mofam. Que perdem o significado. Consegue entender? Agora, acredita? Não era autoajuda barata. Previsão de cigana mentirosa. Horóscopo de jornal vagabundo. Conselho de velho morrendo. Carta falsa de tarô. Não volta mesmo. E espero que na cópia desta mesma carta a ser aberta, novamente, daqui a dez anos, seja menor o arrependimento. Mas eu já aviso: dentro deles, o mesmo texto. Não volta – tatue no braço. Grude post-its. Escreva com carvão pelas paredes. Com as unhas compridas arranhando a terra: história de verdade não se rebobinam.
-Eduardo Baszczyn-

7 de janeiro de 2014

[...]

:: Muito fácil proferir um lindo discurso sobre fé e confiança na vida, difícil é entregar ao Poder Superior seus passos e colocar ação nas tuas palavras. Quando se é contrariado, quando se vive uma frustração, no lugar da esperança, colocamos um profundo ressentimento e cumprimos com maestria o papel de vítima dos acontecimentos. Muito fácil arranjar um réu que nos tire a responsabilidade do crescimento. Muito fácil amparar um amigo dizendo que a cura está no tempo, difícil é acreditar que o tempo vai passar e que haverá cura nele quando a dor está em nós. Fácil demais insistir naquilo que já pressentimos ou até temos certeza de que não nos serve mais, difícil é se comprometer com o seu amor-próprio e se livrar do peso que é tentar mudar quem não deseja mudança alguma. Sempre teremos uma justificativa, um bom motivo ou um argumento irrefutável para prolongar a nossa infelicidade. Admitir que não temos as coisas sob controle é doloroso e quase inaceitável. Usamos a manipulação para tudo. E este movimento é sempre muito sutil, às vezes, até inconsciente. Mas é preciso estar preparado. A vida não nos avisa com antecedência se os próximos instantes serão de alegria ou sofrimento, mesmo quando achamos que estamos fazendo tudo certo. Mas quando há a entrega, quando há uma certa evolução espiritual, uma confiança de que tudo é instrumento para o nosso melhoramento, as adversidades não se tornam menos desconfortáveis, mas a consciência de que esta também é passageira, nos faz focar numa solução, não chafurdar no problema...Estive chafurdando no problema até que tudo se tornasse cansativo demais e eu me lembrasse que estava sendo leviana ao proferir meu discurso otimista e bem-resolvido sobre tudo. Quando tive que colocar ação nas minhas palavras, descobri que a nossa crença deve ser renovada diariamente e que não vivemos apenas do acaso. Mesmo que você tenha encontrado seu grande amor na esquina de uma rua qualquer, foi preciso que você andasse até lá, mesmo que você tenha conseguido o emprego que almejou, foi preciso que alguém te indicasse ou que estudasse o suficiente para tê-lo. Mesmo que você tenha perdido um ente muito querido e não consiga ver possibilidade de restauração desta perda, existem outras pessoas nascendo no mundo e que vão cumprir sua missão nesta existência dentro do tempo concedido a cada um. Eu nunca vi lamentações resolverem problemas, nunca vi relações baseadas na carência pura darem certo ou desempregados conseguirem emprego desaguando suas desgraças numa entrevista.Estou escrevendo isto tudo porque preciso me lembrar de continuar sendo grata, humilde, ousada e corajosa. E a não ser leviana com as palavras, com meus leitores. Antes de ser conselheira sentimental, eu preciso ter o meu emocional resolvido. Antes de opinar sobre um texto alheio, eu preciso ter um mínimo de embasamento. E pra todas as coisas temos que usar a honestidade.
Por isso eu vim aqui, agora pra me lembrar dessa gratidão, porque foi ela que me deu tudo de mais precioso que tenho. Porque ser grato é ser também merecedor.

-Marla de Queiroz-